Milene Silva Ferreira – Doutora em Ciências pela Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP)
A
Síndrome do Imobilismo é caracterizada por alterações nos diversos tecidos e
sistemas orgânicos secundárias ao repouso prolongado, podendo ser sistêmicas ou
segmentares. Várias condições patológicas podem levar ao imobilismo, como:
doenças neurológicas, ortopédicas, reumatológicas, cardiopulmonares, má
nutrição, patologias dos pés, quadros dolorosos, alterações psicoafetivas,
demências, neoplasias, vestibulopatias etc.
A
prevenção de tais complicações deve ser o princípio básico de qualquer plano de
tratamento, visto que muitas das alterações secundárias à síndrome do
imobilismo são irreversíveis. É fato que tais complicações se instalam
rapidamente, ao passo que a recuperação se dá de forma lenta e dificultosa.
Quando
se fala de imobilismo, o pensamento deve se voltar não só ao paciente
confinado ao leito, mas também se deve
lembrar dos dependentes de cadeira de rodas e dos imobilismos segmentares,
como, por exemplo, na fratura de Colles durante a manutenção de uma tala
gessada e do gesso circular, quando deve haver a preocupação de se manter
íntegras as demais articulações.
No
caso de a restrição ao leito não poder ser evitada, várias medidas devem ser
tomadas a fim de prevenir ou, ao menos, minimizar as complicações, diminuindo o
tempo de internação e propiciando a reabilitação posterior do indivíduo.
Alterações por tecidos
Tecido Conjuntivo – Com uma
semana de imobilização inicia-se a troca das fibras colágenas tipo III pelas
tipo I, de tal forma que em três semanas há um predomínio das fibras tipo I que
se caracteriza por ser um colágeno mais denso. As fibrilas recém-formadas fazem
ligações entre si, criando fibras de colágeno mais espessas e mais longas
(fenômeno do rearranjo), alterando sua estrutura básica e consequentemente sua
propriedade elástica. Quantitativamente, observa-se diminuição da massa total
de colágeno com perda de aproximadamente 5% em nove semanas e 25% em doze
semanas. Há também alterações qualitativas e quantitativas dos
glicosaminoglicanos. Estas alterações favorecerão as contraturas.

Tecido Muscular – Diminuíção no nível de glicogênio e ATP,
diminuindo a endurance (resistência muscular). Comprometimento da irrigação
sanguínea, pela diminuição da atividade muscular, levando à diminuição da
capacidade oxidativa. Diminuíção da síntise proteica, levando à atrofia
muscular. Diminuíção da força muscular de 10% a 15% por semana, com
incoordenação pela fraqueza muscular generalizada. Ocorrência de dor pelo
processo inflamatório tecidual que se forma, com liberação de substâncias
algogênicas que estimulam os nociceptores locais. Diminuíção do número de
sarcômeros, propiciando contraturas.
Tecido Articular – O líquido sinovial lubrifica e nutre a
cartilagem, mas necessita do movimento para que haja circulação dos nutrientes,
síntise e degradação da matriz, e estímulo aos sensores elétricos e necânicos
da articulação. Portanto, com a inatividade, há atrofia da cartilagem,
espessamento da sinóvia, fibrose capsular e diminuição da propriocepção.
Tecido Ósseo – Diminuíção da
massa óssea total devido ao aumento da atividade osteoclástica e diminuição da
atividade osteoblástica (a depender da força de tensão aplicada ao osso por
tração tendínea e força da gravidade); aumento da excreção de cálcio pelo
aumento da reabsorção e diminuição na absorção intestinal de cálcio. A
hipercalciúria e a osteoporose são frequentes, mas a hipercalcemia é menos
comum, ocorrendo nos casos de imobilismo associado à insuficiência renal. A
calcificação heterotópica também é uma complicação que deve ser lembrada. A
calcificação heterotópica não é uma entidade rara como se imagina, e sim pouco
diagnosticada, e constitui uma grande causa de deformidade e incapacidade.
Tecido Nervoso Sensorial – A privação
sensorial leva a ansiedade, depressão, insônia, agitação, irritabilidade,
desorientação temporoespacial, diminuição da concentração e diminuição de
tolerância à dor.
Tecido Cutâneo – Atrofia da
pele e úlceras de decúbito influenciadas por: pressão, idade, umidade, estado
nutricional, edema, condições metabólicas, alterações sensitivas, efeitos
neurotróficos e aplicação de forças transversais associada ao aumento da
fragilidade da pele. Uma das principais complicações do repouso prolongado são
as úlceras de pressão cujos principais locais de acometimento são: o sacro,
trocanter femoral, tuberosidade isquiática, ângulo da escápula e calcâneo).
Conclusão
Diante
de todas essas complicações fica clara a importância de se evitar o imobilismo
prolongado e/ou de se investir nas medidas preventivas quando a restrição ao
leito não pode ser evitada. As alterações secundárias à síndrome de imobilidade
devem ser de conhecimento de toda a equipe de saúde que trabalha com o
paciente, pois a abordagem deve ser global, diária e contínua. A intervenção
preventiva já provou diminuir tempo de internação, morbimortalidade e sequelas
incapacitantes, garantindo máxima recuperação funcional e reintegração social.